quarta-feira, 29 de junho de 2011

Que Deus permita





Que Deus permita que eu não abra a boca.
Que eu saiba escutar sem refutar.
Com a mesma lâmina que te corto
Estanco a ferida
Que jamais cicatrizará
mas permanecerá eternamente
Em coagulo de sangue.

Minhas palavras são a guilhotina
que amputam os seus sentimentos
Te atormentam em demasia
E estouram em melancolia.

Sou uma lâmina afiada
E não perdoo sua mentira afinada
E afio as minhas palavras
Para usá-las em sua desgraça.

Mas que Deus. Apenas o bom Deus
Pode me impedir de usar
A afiada verdade que te mata
E te deixa cortada pela metade.

(Melina Murano)

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Sete Palmos





Sete palmos para a escuridão
Sete palmos para o futuro
Sete palmos são só sete
E nada mais se repete.

Irei sem entender
Partirei sem conhecer.
Agarrar o amor é agora
Bater palmas no presente.

Sete palmos me aguardam
Sete palmos é real.
Sete palmas bastariam
E a menina pérola sorriria.

Mas os palmos das palmeiras penosas
Perambulam nessa noite
E partem para buscar
A pérola perdida
Que pestanejou
Para o seu futuro penoso.

Vai pérola! Vagando vazia
Pelas visceras da madrugada vencida
Volciferando os versos vadios
Que um dia ouviu vulgarmente
Por um vulto do vestíbulo do inferno.

Mas os sete palmos
Já estão aqui.
Diga adeus as palmeiras!

(Melina Murano)

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Nas asas da borboleta



Coloquei  o meu poema
Nas asas de uma borboleta.
Ela foi a voar com suas asas a enfeitar
E lá de longe eu vejo o meu poema a brilhar.
Suas asas são coloridas de azul, verde e marfim
E eu amo essa borboleta até o fim.

O meu poema foi brincando
Nas asas da borboleta que foi levando,
Mas os meus versos foram se apaixonando
Pois de flor em flor a borboleta foi beijando.

E assim o meu poema foi ficando
Em cada flor foi pecando.
O meu poema se esqueceu
Do amor que a borboleta lhe deu.

O meu poema foi desfazendo
Caindo sem argumento.
A borboleta se perdeu nas flores
E o meu poema nos seus muitos amores.

(Melina Murano)

terça-feira, 7 de junho de 2011

Poesia



Vivo de poesia
Respiro poesia
Como poesia
Sinto  poesia
Amo poesia

Mas eu nem sei direito o que é isso…

Quero um mundo de poesia
Para poder desfrutar do que eu nunca tive
Para poder viver o desconhecido
Para poder me entregar sem saber
Para poder ter sem ter tido
Para poder ser sem ter sido.

Sonho com a poesia
E no sonho ela me persegue.
Corre atrás de mim
E me sufoca em nostalgia
Brilha com melancolia
Sofre com maestria
E me mata em euforia.

E a poesia vai sendo…
Misteriosamente vai nascendo,
Crescendo, Vivendo, Dormindo, Morrendo.
Morre!
Acordo e não sou mais eu
Me transformei em seu.

Agora eu posso:
Olhar sem ver
Sentir sem saber
Saborear sem comer
Até te amar sem perceber.

(Melina Murano)