segunda-feira, 21 de março de 2011

Análise do poema "No jardim em penumbra"

No jardim em penumbra

Na penumbra em que jaz o jardim silencioso
A tarde triste vai morrendo... desfalece...
Sobre a pedra de um banco um vulto doloroso
Vem sentar-se, isolado, e como que se esquece.

Deve ser um secreto, um delicado gozo
Permanecer assim, na hora em que a noite desce,
Anônimo, na paz do jardim silencioso,
Numa imobilidade extática de prece.

Em lugar tão propício à doçura das almas
Ele vem meditar muitas vezes, sozinho,
No mesmo banco, sob a carícia das palmas.

E uma só vez o vi chorar, um choro brando...
Fiquei a ouvir... Caíra a noite, de mansinho...
Uma voz de menina ao longe ia cantando.

Ribeiro Couto

*****

Neste poema o “eu” lírico observa um vulto doloroso quem vem sentar-se isolado e ali permanece como “um delicado gozo” numa atmosfera de entardecer, criando um clima sombrio. Percebe-se logo na primeira estrofe características simbolistas, como a fuga da realidade, em que o vulto simboliza a alma de alguém que já faleceu, verifica-se no trecho “Na penumbra em que jaz o jardim silencioso”, que só foi possível com a quebra das correntes que aprisionavam o corpo e a alma, havendo uma libertação da alma por meio da morte. O local onde esse vulto está é uma pedra, simbolizando um túmulo, percebe-se isso quando o “eu” lírico cita no terceiro verso da primeira estrofe “sobre a pedra de um banco um vulto doloroso”.

Na segunda estrofe o vulto permanece “numa imobilidade estática de prece” como se ele estivesse em uma profunda comunhão e paz, tornando-se anônimo para o restante do mundo, porque ele tenta atingir a sua própria alma, mostrando assim a temática intimista do Simbolismo.

Na terceira estrofe nota-se que o lugar é propício ao descanso das almas, e é aconchegante pelo ambiente de paz buscando sempre um refrigério à alma.

Na quarta estrofe o “eu” lírico viu o vulto chorar uma única vez, pois o lugar é tão propicio a paz que o choro se torna brando, e observando o choro ele não percebe que caíra à noite e de mansinho ele ouve uma voz de menina ao longe, cantando, que o traz novamente a realidade.

Neste soneto percebe-se uma boa parte de características simbolistas, mas observa-se também que sua estrutura foge as regras clássicas do soneto petrarquiano, pois verifica-se uma inovação de sua estrutura típica do Modernismo. O penumbrismo refere-se ao fato de Ribeiro Couto ser um poeta de transição, isso fica evidente pelo próprio título do poema.

terça-feira, 8 de março de 2011

O PESO


Nas minhas costas havia um peso
Era um grande erro
Que de tanto machucar mostra
A verdade por inteiro.
Meus olhos não enxergavam a verdade
De toda minha vaidade.
Mas era o meu enterro
Noite fúnebre no mês de Setembro.
Era o que eu queria
Ser enterrada por melancolia.
A minha face nunca desmostrou
O amor que ele encontrou.
Olhei nos seus olhos e me vi:
Sentada a sorrir.
Ele jamais desconfiaria
Que diante da face angelical
Havia um demônio formal.
Olhei-me no espelho e vi
O grande peso a me ferir.
A minha face se perdeu
Diante do seu mundo e eu.
E agora eu me pergunto:
Quem será eu?

(Melina Murano)